a inteligencia e o oleo de ricio

Agatha Christe Gamer
6 min readApr 11, 2021

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o texto asseguir e uma traduçao da seçao 3 do primeiro capitulo da ‘aescena contemporanea’, de joso carlos mariategui, e sua versao original pode ser encontrada gratuitamente aqui:

“O fascismo conquistou, ao mesmo tempo que o governo e a Ciudad eterna[1], a maior dos intelectuais italianos. Alguns se juntaram sem escrúpulos a sua base e a sua fortuna; outros Lhe dirigiam um consenso passivo; outros, mais prudentes, tinham uma benevolente neutralidade. A inteligência gosta de se deixar possuir pela força, sobre tudo quando a força é, como é o fascismo, jovem, ousada, marcial e aventureira.

Eles concordam, alem do mais, com a adesão de intelectuais e artistas ao fascismo, causas especificamente italianos. Todos os últimos capítulos da Itália estão saturados de d’annuzianismo. “as origens espirituais do fascismo estão na literatura de D’annuzio” o futurismo- que foi uma face, um episidio do d`annuzianismo- e outro dos ingredientes psicológicos do fascismo. Os futuristas saudaram a guerra de tripoli[2] como o inicio deuma nova era para a Itália. D´annuzio foi, mais tarde, o condottiere[3] espiritual da intervenção italiana na guerra mundial. Futuristas e d´annuzianos criaram na Itália um gênio megalomaníaco, anti cristão, romântico e retórico. Tomaram nas novas gerações- como Adriano tilgher e Antonio labriola observaram- o culto do heroi, da violência e da guerra. Em um povo como o italiano, terno, litoranio e prolífico, mal contido e alimentado por sua terra escassa, existiam uma latente tendência a expansão. Essas idéias, por tanto, encontraram uma atmosfera favorável. Os fatos demográficos e econômicos concediam com as sugestões literárias. A classe media, em particular, foi presa fácil do espírito d’annuziano. (O proletariado, dirigido e controlado pelo socialismo, era menos permiavel a tal influencia). Com esta literatura cominavam a filosofia idealista de gentile e de Croce e de todas as importantes transformações do pensamento tudesco.

Idealistas, futuristas e d’annuzianos sentiram no fascismo uma obra própria. Aceitaram sua maternidade. O fascismo estava unido a maior parte dos intelectuais por um sensível cordão unbilical. D’annuzio não se incorporará ao fascismo, na qual não poderia ocupar a posição de tenente; mas mantivera com ele cordiais relaçoes e não deu corte a seu amor platônico. O mais ultraísta[4] dos jornais fascistas, L’impero de Roma, ainda e dirigido por Mario carli e Emilio settimeli, dos remanescentes do futurismo. Ardengo soffci, outro ex-futurista, colabora no Il Popolo d’Italia, o órgão de Mussolini. Os filósofos do idealismo tampouco se renegaram ao fascismo. Giovanni gentile, depois de reformas fascisticamente o ensino, fez finalmente o pedido de desculpas idealista ao cacetete. Finalmente, os literatos solitários, sem escolas e sem capelas, tambem reclamaram um espaço a si no cortejo vitorioso do fascismo. Sem baneli, um dos maiores representantes dessa categoria literária, mesmo cauteloso em vestir “a camisa negra”, colabora com os fascistas, e si confunde com eles, aprova sua práxis e seus métodos. Nas ultimas eleições, sem benelli foi um dos candidatos conspícuos da lista ministerial.

Mas isto acontecia nos tempo, ou parecia que se estava, na plenitude do feito fascista. Desde que o fascismo entrara em declínio, os intelectuais começaram a ratificar suas atitudes. Os que guardaram silencio frente a marcha de Roma sentem hoje a necessidade de condená-la. O fascismo perdeu uma grande parte deu sua clientela e de sua comitiva intelectual. As conseqüências do assassinato de matteotti estão apreçam as dissociações.

Atualmente se afirma entre os intelectuais uma corrente antifascista. Roberto braço e um do lideres da oposição democrática. Benedetto Croce se declara tambem antifascista, a pesar de compartilhar com giovani gentile a responsabilidade e os louros da filosofia idealista. D’annuzio que se mostra tímido e mau humorado, há anunciado sua retirada da vida publica e que volta a ser o mesmo “solitário e orgulhoso artista” de antes. Sem beneli, em fim, com alguns dissidentes do fascismo e do filo fascismo, fundou a liga itálica com o objetivo de provocar uma revolta moral contra os métodos dos “camisas negras”.

Recentemente, o fascismo recebeu a adição de Pirandello mas Pirandello e um humorista. Por outra parte, prandello e um pequeno burguês, provinciano e anarcoide, com muito engenho para literatura e muita pouca sensibilidade política. Sua atitude não pode ser nunca o sintoma de uma situação. Malgrado Pirandello, e evidente que os intelectuais italianos estão com nojo do fascismo. O idílio entre a inteligência e o oleo de ricinio[5] esta terminado.

Como se deus essa ruptura? Convém eliminar imediatamente uma hipótese: a de que os intelectuais se separaram de mussolini por que este não esta mais se aproveitando de sua colaboração. O fascismo geralmente enfeitado da retórica imperialista dissimula sua falta de princípios sobre alguns lugares comuns literários; mas mais que a os artesos das palavras amam os homens de ação. Mussolini e um homem tambem agudo e ardiloso para rodear-se de literatos e professores. Le serve mais uma equipe de demagogos e guerrilheiros, expetes no ataque, no tumulto e a na agitação. Entre o porrete e a retórica, escolhem sem hesitação o porrete. Roberto farinacci, um dos líder atuais do fascismo, o principal ator de sua ultima assembléia nacional, não es so um descomunal inimigo da liberdade e da democracia e também da gramática. Mas estas coisas não são suficientes para desolar os intelectuais. Na verdade, na realidade, nem os intelectuais esperaram que mussolini transformasse seu governo em uma academia da bizantina, nem a proposta fascista foi mais gramatical que agora tampouco acontece que os literatos, filósofos e artistas, a Artecra como o chama llama marietti, fica horrorizada demais com a truculencia e a brutalidade dos feitos dos “camisas negras”. Por tres anos eles sofreram se sem reclamações e sem rejeições

A nova orientaçao da inteligencia italiana e um sinal, um indicio de um fenômeno mais profundo. Nao e para o fascismo um grande feito em si, e sim, parte de um feito maior. A perda ou a adiçao de alguns poetas, como sem beneili, nao tem tanta importância para reação assim como para revoluçao. A inteligencia, a artecracia, nao reagiu ao fascismo antes que as categorias socias, a quais estao incluidos, mas depois dessas. Nao sao os intelectuais que mudaram de atitude frente ao fascismo. E a burgessa, os bancos, os jornais, etc..,etc…, a mesma gente e as mesmas instituições das quais o consenso permitiu a tres anos a marcha sobre roma. A inteligencia e essencialmente oportunista. O papel dos intelectuais na historia é, na realidade, muito modesto. Nao e a arte, nao e a literatura, apesar da sua megalomania, que dirgem a politica; dependem dela, assim como tantas outras atividade menos exoticas e ilustres. Os intelectuais formam a clientela da ordem, da tradiçao, do poder, da força, etc…, e, quando necessário, do cacetete e do oleo de ricinio. Alguns espíritos superiores, algumas mentalidades criativas escapam a essa regra; mas são espíritos e mentalidades excepcionais. Pessoas de classe média, artistas e literatos geralmente não têm aptidão para nem são revolucionários. Aqueles que atualmente se atrevem a se levantar contra o fascismo são totalmente inofensivos. A Liga Italiana de Sem Benelli, por exemplo, não quer ser partido, nem quase pretende fazer política. Ela se define como “um elo sagrado para

desenvolver seu programa sagrado: Para o Bem e o Direito da Nação Italiana: para o Bem e o Direito do Homem Italiano”. Esse programa pode ser muito sagrado, como diz Sem Benelli; mas também é muito vago, muito gasoso, muito cândido. Sem Benelli, com aquela saudade do passado e aquele gosto pelas frases arcaicas, tão típicas dos poetas medíocres de hoje, vai pelas estradas da Itália dizendo como um grande poeta de ontem: Pace, pace, pace! Seu conselho indefeso está muito atrasado”

[1] La ciudad eterna e o sobrenome de Roma, ele quis dizer que o fascismo conquistou a cidade

[2] foi um conflito armado entre o Império Otomano e o Reino de Itália pela posse da Líbia. Prolongou-se de 29 de setembro de 1911 a 18 de outubro de 1912.

[3] condottiere e o líder de um grupo de bandoleiros italianos

[4] Ultraismo e uma espécie de vanguarda concentrada

[5] Referencia a uma forma de tortura dos camisas negras em que eles obrigavam as pessoas a beber óleo de ricinio

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